Esta é a tradução italiana de um editorial, publicado na edição de 20 de abril de 2002 do British Medical Journal, no qual a transferência dos resultados da pesquisa para a prática clínica.
Este editorial resume os únicos resultados aparentemente discordantes das últimas pesquisas, de onde emerge claramente que a opção que as mulheres às vezes expressam pela cesariana não pode, com base nas evidências disponíveis, ser considerada o resultado de uma escolha autêntica.
Promover a prática baseada em evidências no cuidado materno. Pode manter o bisturi longe
Há uma lacuna reconhecida no cuidado materno entre a evidência de eficácia e a prática clínica. De fato, muitas vezes os cuidados de rotina não se baseiam em evidências de eficácia e há forte resistência ao abandono de procedimentos prejudiciais ou inúteis.
As cesarianas e episiotomias desnecessárias são bons exemplos da lacuna entre a evidência de eficácia e prática e a dificuldade que as mudanças encontram, como ilustram dois artigos [2-3].
As cesarianas desnecessárias são conhecidas por aumentar os riscos de saúde para a mãe e o bebê e aumentar os custos dos cuidados de saúde. Houve um notável aumento de cesarianas em todo o mundo, crescimento que atingiu proporções epidêmicas na América Latina.
Uma combinação de fatores contribuiu para essa tendência: a visão dos profissionais sobre a segurança das cesarianas, a conveniência dos obstetras e a configuração dos sistemas de saúde.
- Um quarto elemento é a solicitação de parto cirúrgico por parte das pacientes, argumento muito forte, principalmente no Brasil.
- Em contraste com os relatos anedóticos, que falam do
Brasil como um lugar onde as mulheres pedem cesariana, dois artigos recentes [4-5] mostram que os profissionais, e não as pacientes, usam as supostas preferências das mulheres como desculpa para seguir suas propensões.
No entanto, Behague et al [2] agora contradizem esses dados em um estudo realizado na cidade de Pelotas, no sul do Brasil, mostrando que as mulheres (predominantemente marginalizadas socialmente) pedem explicitamente a cesariana para evitar a má assistência no trabalho de parto, incluindo a falta de controle da dor.
- Os métodos utilizados pelos autores desta pesquisa são robustos, combinando abordagens epidemiológica e etnográfica em uma grande amostra.
- No entanto, este estudo, diferentemente dos anteriores, foi realizado em apenas uma cidade.
A pesquisa pode, portanto, não ser generalizável
Isso é particularmente relevante, levando em conta as diferenças geográficas nas taxas de CT no Brasil. A reprodução desses achados em diferentes lugares é necessária para promover o debate, no contexto da polêmica mais ampla sobre o papel da escolha da mulher sobre como parir.
A escolha informada é fundamental para um cuidado de boa qualidade. Infelizmente, as decisões das mães sobre procedimentos obstétricos muitas vezes são tudo menos manifestações genuínas de livre-arbítrio: as mulheres recebem informações incompletas, expressam suas ‘preferências’ enquanto estão sob estresse e dor e.
(especialmente no desenvolvimento de países em desenvolvimento) a distância social entre paciente e profissional reduz seu poder de decisão.
O artigo de Behague e colaboradores [2] acrescenta outro elemento interessante à discussão sobre a escolha: em seu estudo, as pacientes preferem a cesariana não pelas vantagens desse tipo de parto, mas por constituir uma tentativa de evitar assistência • muito pobre em mão de obra, o que geralmente é a norma em hospitais públicos com recursos e orçamentos inadequados.
Em outras palavras, a justificativa para a ‘escolha’ não deriva de uma atitude positiva, baseada em informações precisas sobre os riscos e benefícios, mas visa evitar ‘efeitos colaterais’ negativos.